sábado, 5 de outubro de 2013

Nacionalizar


verbo transitivo
1. Instituir em nação.
2. Tornar nacional; naturalizar.
3. Aclimar.
verbo pronominal
4. Naturalizar-se.

Gosto desta definição. Não se socorre das conjecturas de natureza político-ideológica sobre a posse dos meios de produção, a luta de classes ou os prós e contras do capitalismo face ao socialismo. É uma definição que, estando limpa dos ruídos que as velhas cassetes sempre acumulam - rebobinem elas para a esquerda ou para a direita –, não foge do fulcro da questão.

Nacionalizar é tornar nacional. É dar a posse de algo a uma nação, ao conjunto de pessoas que partilham um território, uma cultura, uma história e, frequentemente, uma língua.

O antónimo de nacionalizar é privatizar. É uma palavra que tem associada uma aura de eficiência e modernidade: evoca termos como bolsa, OPV, capitalização, índice bolsista e outros que gostamos de repetir, como as crianças fazem quando acabam de aprender uma palavra. Bolsamos como as crianças pequenas.

Infelizmente o antónimo de nacionalizar é eufemístico. Usamo-lo porque o mais correcto “desnacionalizar” nos faria lembrar a verdadeiras consequências de o fazer. Privatizar é, na verdade, tornar não-nacional aquilo que antes o era.

É engraçado medir a distância a que estamos das intenções de quem tomou as decisões de privatizar as grandes empresas públicas, garantindo que os centros de decisão sempre estariam em mãos nacionais. Se eram intenções verdadeiras ou falsas não interessa agora. O facto é que, como agora constatamos com a fusão da PT na Oi ou com as ameaças do Catroga assim que se fala em alterar as tarifas eléctricas, a nossa capacidade, enquanto nação, de decidir sobre sectores essenciais deixa de existir quando os privatizamos.

Privatizar  é deixar que países maiores, mais ricos ou mais poderosos que o nosso tenham o poder de decidir sobre o fornecimento de coisas tão essenciais para a nossa vida quotidiana como as telecomunicações, a electricidade ou, mais cedo que tarde, os correios. Países colossais como o Brasil ou a China que dificilmente seremos capazes de enfrentar (ou de fazer com que os nossos aliados enfrentem) quando estes serviços não estiverem a ser fornecidos de acordo com as nossas necessidades. 

Como diz o Priberam, nacionalizar é instituir em nação. Privatizar é destituir essa nação. É tirar-lhe o poder de decidir sobre si mesma. Até que deixe de o ser. 

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