terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ginásio


(latim gymnasium, -ii, local público para exercício físico, escola filosófica)
substantivo masculino
1. Lugar em que se fazem exercícios de ginástica, especialmente a de aparelhos (trapézio, argolas, barra fixa, etc.).
2. Local ou edifício destinado à prática de exercício físico.
3. [Brasil]  Estabelecimento de ensino secundário.

“Ainda hás-de pesar o dobro de mim!”

Foi com esta frase, proferida num tom entre o aviso e a profecia, que Ela comentou os números exibidos pela balança cá de casa no regresso das férias, já difíceis de ver por baixo da meu generoso perímetro abdominal. Tentei sem grande sucesso transformar o meu sorriso amarelo numa expressão confiante mas tudo o que me saiu foi um esgar e um resmungo pouco convincente. 

E claro que fiquei a pensar nisso. Estou mesmo a aproximar-me do dobro do seu peso, o que quer dizer que dois dígitos são quase insuficientes para contar os quilos que carrego sobre os pés. Para ajudar, Ela resolveu inscrever-se num ginásio, facilitando a concretização da maldição que me lançou.

Por isso, decidi inscrever-me também no ginásio, o que me pôs em contacto com uma realidade engraçada que, se não me ajudar a perder algum peso, dá-me pelo menos para escrever qualquer coisa. É que, para além do significado moderno da palavra, um ginásio ainda é uma escola filosófica, em que se apreendem várias lições de vida que passo a partilhar, para quem esteja interessado no tema:


1) Um ginásio tenta recuperar no mais curto espaço de tempo o desconto que “deu” na inscrição do praticante. No meu caso, o PT (todos os instrutores usam este prefixo – v.g. o PT Virgílio, a PT Albertina) tentou vender-me uma avaliação física. Tenho 41 anos, 92 quilos e sou fumador. Será mesmo necessário pagar 20€ a um recém-licenciado do ISEF (ou lá como é que aquilo se chama agora) para me dizer em que condição está o meu físico? Além disso, nenhum PT consegue ser mais eloquente que o profético “hás-de pesar o dobro de mim”.

2) Um ginásio alimenta-se de entusiasmo. Esse entusiasmo é passado aos alunos pelos gritos amplificados do PT que se tentam sobrepor aos gritos da música martelada, já de si sobejamente estridente, e é reforçado (o entusiasmo, bem entendido) por um dá-cá-mais-cinco no fim da aula.

3) Um ginásio tem regras rigorosas, a cumprir como se estivéssemos a lidar com a repartição de finanças. Envolvem tirar uma senha com nunca menos de quinze minutos de antecedência para ir a uma aula, andar sempre com uma toalha para pendurar na máquina de exercício, não trazer para a sala o calçado da rua (“desta passa por ser a primeira vez”) e não cuspir para o chão para não atingir um praticante em dificuldades (está bem, esta é inventada).

4) As endorfinas existem e têm um efeito poderoso sobre o desejo de repetir o exercício físico. Só não descobri ainda se a sua produção é incentivada pelas raparigas que se exercitam nas máquinas elípticas à frente da passadeira onde estive a correr ou se é mesmo só da corrida. Seja como for, já ando a contar os dias que faltam para lá voltar.

Enfim, o ginásio alia a moderna cultura do corpo aos ensinamentos do espírito, dignos dos curricula do antigo gymnasium. Isso e a cara da PT quando lhe perguntei se teriam encontrado um maço de tabaco que perdi, valem cada cêntimo da mensalidade.

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