(latim gymnasium,
-ii, local público para exercício físico, escola filosófica)
substantivo
masculino
1. Lugar em que se fazem exercícios de
ginástica, especialmente a de aparelhos (trapézio, argolas, barra fixa, etc.).
2. Local ou edifício destinado à prática de
exercício físico.
3. [Brasil] Estabelecimento de ensino secundário.
“Ainda
hás-de pesar o dobro de mim!”
Foi
com esta frase, proferida num tom entre o aviso e a profecia, que Ela comentou
os números exibidos pela balança cá de casa no regresso das férias, já difíceis
de ver por baixo da meu generoso perímetro abdominal. Tentei sem grande sucesso
transformar o meu sorriso amarelo numa expressão confiante mas tudo o que me
saiu foi um esgar e um resmungo pouco convincente.
E
claro que fiquei a pensar nisso. Estou mesmo a aproximar-me do dobro do seu
peso, o que quer dizer que dois dígitos são quase insuficientes para contar os
quilos que carrego sobre os pés. Para ajudar, Ela resolveu inscrever-se num
ginásio, facilitando a concretização da maldição que me lançou.
Por
isso, decidi inscrever-me também no ginásio, o que me pôs em contacto com uma
realidade engraçada que, se não me ajudar a perder algum peso, dá-me pelo menos
para escrever qualquer coisa. É que, para além do significado moderno da
palavra, um ginásio ainda é uma escola filosófica, em que se apreendem várias
lições de vida que passo a partilhar, para quem esteja interessado no tema:
4) As endorfinas existem e têm um efeito poderoso
sobre o desejo de repetir o exercício físico. Só não descobri ainda se a sua
produção é incentivada pelas raparigas que se exercitam nas máquinas elípticas
à frente da passadeira onde estive a correr ou se é mesmo só da corrida. Seja
como for, já ando a contar os dias que faltam para lá voltar.
1) Um
ginásio tenta recuperar no mais curto espaço de tempo o desconto que “deu” na
inscrição do praticante. No meu caso, o PT (todos os instrutores usam este
prefixo – v.g. o PT Virgílio, a PT Albertina) tentou vender-me uma avaliação
física. Tenho 41 anos, 92 quilos e sou fumador. Será mesmo necessário pagar 20€
a um recém-licenciado do ISEF (ou lá como é que aquilo se chama agora) para me
dizer em que condição está o meu físico? Além disso, nenhum PT consegue ser
mais eloquente que o profético “hás-de pesar o dobro de mim”.
2) Um
ginásio alimenta-se de entusiasmo. Esse entusiasmo é passado aos alunos pelos
gritos amplificados do PT que se tentam sobrepor aos gritos da música
martelada, já de si sobejamente estridente, e é reforçado (o entusiasmo, bem
entendido) por um dá-cá-mais-cinco no fim da aula.
3) Um
ginásio tem regras rigorosas, a cumprir como se estivéssemos a lidar com a
repartição de finanças. Envolvem tirar uma senha com nunca menos de quinze
minutos de antecedência para ir a uma aula, andar sempre com uma toalha para
pendurar na máquina de exercício, não trazer para a sala o calçado da rua (“desta
passa por ser a primeira vez”) e não cuspir para o chão para não atingir um
praticante em dificuldades (está bem, esta é inventada).
Enfim,
o ginásio alia a moderna cultura do corpo aos ensinamentos do espírito, dignos
dos curricula do antigo gymnasium.
Isso e a cara da PT quando lhe perguntei se teriam encontrado um maço de tabaco
que perdi, valem cada cêntimo da mensalidade.
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