sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Meteorologia


substantivo feminino
Parte da Física que trata dos fenómenos atmosféricos e das suas leis, especialmente com vista à previsão do tempo.


Sou do tempo em que a meteorologia tinha direito a um espaço televisivo próprio, apresentado por profissionais do ramo que se esforçavam por nos explicar as causas do que iria acontecer através de mapas cobertos de linhas e letras A e B, quando a única coisa que queríamos era perceber o que vestir no dia seguinte.

Era a época dourada da meteorologia em que o horário nobre televisivo era ocupado com expressões como anticiclone, superfície frontal, amplitude térmica ou boas abertas, saídos da boca de indivíduos com nomes venerandos como Anthímio. Enfim, divertimento e educação depois das agruras do telejornal e antes da novela. Um tempo que já não volta.

A TV já não tem isso mas a Protecção Civil, com os seus comunicados a alertar para temporais como os desta semana, tenta recuperar a importância que antes dávamos à meteorologia.

E a eloquência é tanta que ninguém lhes consegue ficar indiferente. Honestamente, quem é que pode ignorar avisos de que a precipitação será “persistente e por vezes intensa”? Ninguém. Mas logo a seguir, a Protecção Civil perde o ânimo alarmista e confessa que essa precipitação será superior a 10mm/h. 10 milímetros!? Parece menos que a primeira urina da manhã de qualquer individuo com a próstata saudável. Um conselho: se querem deixar as pessoas vigilantes, usem unidades como litros ou, a minha preferida, hectolitros, que por começar por h, invoca coisas desagradavelmente hiperbólicas como hecatombes ou hipermercados. Para com os habitantes do Alto Alentejo já foram mais cuidadosos. Avisaram que a situação era um pouco pior e que se previam acumulados de precipitação superiores a 40mm/6h. Se isto for um rácio, como eu desconfio que seja, é uma grandeza menor que 10mm/hora, mas sempre impressiona um bocado mais.

Pontualmente, continua a Protecção Civil, poderão organizar-se fenómenos convectivos mais intensos. Pois. O que são fenómenos convectivos ninguém desconfia e eles não explicam. O que explicam é que  podem dar origem a “trovoadas e fenómenos extremos de vento localizados”, o que já é compreensível. É como aquelas definições que aprendíamos na escola sem saber o seu significado: fenómenos convectivos são fenómenos que dão origem a fenómenos de vento localizados. Ficou claro? Como a água. Da chuva.

Depois, a Protecção Civil avisa-nos  do que pode vir a acontecer. Chama-lhes “efeitos expectáveis”. Entre outras, há a “possibilidade de inundação por transbordo de linhas de água nas zonas historicamente vulneráveis”. Trocado por miúdos, alertam-se os habitantes das zonas ribeirinhas onde costuma haver cheias para o facto de poderem vir a ocorrer cheias. Parece-me um bocado chover no molhado até porque dos outros seis efeitos previstos, três deles são cheias: cheias na estrada, cheias nas cidades (o “meio urbano”) e cheias no metro e nas garagens a que, de modo genial chama “estruturas urbanas subterrâneas”.     

O comunicado acaba com as medidas preventivas, todas elas tão deliciosas como numerosas pelo que apenas refiro aquela que desaconselha “actividades relacionadas com o mar”. Em concreto “passeios à beira-mar” (algo que me parece particularmente perigoso em dias de forte convecção) e “estacionamento de veículos na orla marítima”, essa actividade marítima tão do gosto dos cidadãos portugueses.

Anthímio, sei que te desprezámos mas, se te derem isto a ler, perdoa-nos, tira o carro da orla marítima e volta. 

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