substantivo
feminino
Parte da
Física que trata dos fenómenos atmosféricos e das suas leis, especialmente com
vista à previsão do tempo.
Sou do tempo em que a
meteorologia tinha direito a um espaço televisivo próprio, apresentado por
profissionais do ramo que se esforçavam por nos explicar as causas do que iria
acontecer através de mapas cobertos de linhas e letras A e B, quando a única
coisa que queríamos era perceber o que vestir no dia seguinte.
Era a época dourada da
meteorologia em que o horário nobre televisivo era ocupado com expressões como
anticiclone, superfície frontal, amplitude térmica ou boas abertas, saídos da
boca de indivíduos com nomes venerandos como Anthímio. Enfim, divertimento e
educação depois das agruras do telejornal e antes da novela. Um tempo que já
não volta.
A TV já não tem isso mas a Protecção
Civil, com os seus comunicados a alertar para temporais como os desta semana, tenta
recuperar a importância que antes dávamos à meteorologia.
E a eloquência é tanta que
ninguém lhes consegue ficar indiferente. Honestamente, quem é que pode ignorar
avisos de que a precipitação será “persistente e por vezes intensa”? Ninguém. Mas
logo a seguir, a Protecção Civil perde o ânimo alarmista e confessa que essa
precipitação será superior a 10mm/h. 10 milímetros!? Parece menos que a
primeira urina da manhã de qualquer individuo com a próstata saudável. Um
conselho: se querem deixar as pessoas vigilantes, usem unidades como litros ou,
a minha preferida, hectolitros, que por começar por h, invoca coisas desagradavelmente
hiperbólicas como hecatombes ou hipermercados. Para com os habitantes do Alto
Alentejo já foram mais cuidadosos. Avisaram que a situação era um pouco pior e
que se previam acumulados de precipitação superiores a 40mm/6h. Se isto for um
rácio, como eu desconfio que seja, é uma grandeza menor que 10mm/hora, mas
sempre impressiona um bocado mais.
Pontualmente, continua a
Protecção Civil, poderão organizar-se fenómenos convectivos mais intensos.
Pois. O que são fenómenos convectivos ninguém desconfia e eles não explicam. O
que explicam é que podem dar origem a
“trovoadas e fenómenos extremos de vento localizados”, o que já é
compreensível. É como aquelas definições que aprendíamos na escola sem saber o
seu significado: fenómenos convectivos são fenómenos que dão origem a fenómenos
de vento localizados. Ficou claro? Como a água. Da chuva.
Depois, a Protecção Civil
avisa-nos do que pode vir a acontecer.
Chama-lhes “efeitos expectáveis”. Entre outras, há a “possibilidade de
inundação por transbordo de linhas de água nas zonas historicamente
vulneráveis”. Trocado por miúdos, alertam-se os habitantes das zonas
ribeirinhas onde costuma haver cheias para o facto de poderem vir a ocorrer
cheias. Parece-me um bocado chover no molhado até porque dos outros seis
efeitos previstos, três deles são cheias: cheias na estrada, cheias nas cidades
(o “meio urbano”) e cheias no metro e nas garagens a que, de modo genial chama “estruturas
urbanas subterrâneas”.
O comunicado acaba com as medidas
preventivas, todas elas tão deliciosas como numerosas pelo que apenas refiro aquela
que desaconselha “actividades relacionadas com o mar”. Em concreto “passeios à
beira-mar” (algo que me parece particularmente perigoso em dias de forte
convecção) e “estacionamento de veículos na orla marítima”, essa actividade
marítima tão do gosto dos cidadãos portugueses.
Anthímio, sei que te desprezámos
mas, se te derem isto a ler, perdoa-nos, tira o carro da orla marítima e volta.
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