(parceiro
+ -ia)
substantivo
feminino
1. Sociedade comercial em que os sócios,
parceiros ou compartes, apenas são responsáveis pelo quinhão ou parte com que
entrarem e só lucram na proporção do que deram.
2. Relação de colaboração entre duas ou
mais pessoas com vista à realização de um objectivo comum.
As PPP são fascinantes. Têm todos os condimentos de um bom livro,
daqueles que conseguem ser épicos, românticos, misteriosos e até humorísticos.
Eu explico. As PPP são épicas porque permitiram criar heróis
lendários cujas façanhas ficaram indelevelmente marcadas na história e na
paisagem portuguesas não por actos de bravura, como os dos heróis gregos, mas
por alcatrão. Muito alcatrão. Aqui há uns tempos pus-me a fazer contas e cheguei
à conclusão que se fizeram estradas suficientes, em PPP, para cobrir toda a
área do concelho de Lisboa.
Mais comezinho que o sonho do reverendo King, os nossos heróis
sonharam com alcatrão. Alcatrão suficiente para nunca mais haver
engarrafamentos e ainda sobrar espaço para maratonas, manifestações, ciclovias
de seis faixas, tudo ao mesmo tempo. Enfim, mobilidade ad nauseam. Claro que é demasiada mobilidade para tão poucos sítios
onde ir, mas isso é um detalhe.
Não se pense que falo dos heróis gregos para, como diz o
Casablancas, mijar no caixão do Sócrates. É que estas façanhas começaram antes,
no tempo do que já fez por merecer o cognome d’O Desmemoriado ao não se lembrar
das 105.378 acções do BPN, das reformas que ganha nem das obrigações que tem no
lugar que agora ocupa. O sonho do alcatrão é um sonho antigo.
As PPP são românticas porque nascem do amor pela eficiência do
mercado. Pela eficácia que a concorrência traz à gestão das coisas. Claro que
em Portugal – e já mais que desconfio noutros lados – o mercado nunca é bem
aquele mercado competitivo, isento, pulverizado, simétrico no poder e no acesso
à informação. É um mercado em que mais de 60% dos quilómetros em PPP estão nas
mãos de dois grupos com os Mello – aliás, a Brisa – à cabeça com 43% do
alcatrão. No fundo o amor existe mas não é desinteressado. É um amor que junta
na mesma cama políticos e empresários, mas em que o alvo das investidas excitadas
somos nós, os que pagamos.
E se pagamos. Apesar das portagens introduzidas, das anunciadas
renegociações e de um governo alegadamente reformista, o Orçamento
de Estado para 2014 prevê que as PPP nos vão custar 1645 milhões de euros,
mais de metade dos cortes em salários, pensões, escolas e hospitais que vamos
ter no ano que vem, aqueles sobre os quais a ministra das finanças diz não nos
devermos sentir injustiçados e que, segundo ela, são equitativos. Curiosamente
omitido, é o facto de que, face ao que se previa
o ano passado, os gastos com PPP rodoviárias serem, em 2014, superiores em
160 milhões de euros. E aqui está o mistério: o governo da consolidação,
racionalização e das reformas estruturantes arranjou maneira de gastar mais
dinheiro que o previsto, sem explicar como ou porquê. Misteriosamente também,
deixou de publicar há cerca de um ano os relatórios periódicos sobre PPP.
E o humor? Onde está a piada disto? Em nós. Levamos cortes e
comparamo-los com os do vizinho do lado. Os que ainda trabalham acham bem que
se corte aos reformados, os que trabalham no privado acham bem os cortes dos
funcionários públicos, os que não fumam aplaudem o imposto sobre o tabaco e os
que têm carro a gasolina concordam com impostos sobre o gasóleo. Somos os
protagonistas daquela anedota em que dois tipos, depois de dias perdidos no
deserto, são apanhados a roubar fruta no oásis do sultão. Este, como castigo,
obriga-os a introduzir a fruta roubada naquele sítio onde o sol nunca brilha.
Um deles, apanhado a roubar uma meloa, ri-se quando conhece a sentença: é que o
outro tinha roubado uma melancia.
A anedota somos nós. Os parceiros de infortúnio que ao contrário
do que define o Priberam, não
percebemos que o nosso objectivo, o nosso destino, é comum.
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