(anticonstitucionalíssimo
+ -mente)
advérbio
De modo
muito anticonstitucional.
Quando andava na escola disseram-me que anticonstitucionalissimamente
era a maior palavra da língua portuguesa. Sempre achei que era uma palavra inventada
para cumprir aquele que parece ser o desígnio do português moderno – entrar
para o Guiness, seja a servir feijoadas na Vasco da Gama, a cozer uma tonelada
de caracóis ou a fazer mega-sardinhadas, mega-piqueniques ou outra mega-qualquer-coisa,
frequentemente relacionada com comida.
Anticonstitucionalissimamente seria, pensava eu, uma
maneira habilidosa de arranjar mais uma entrada para o livro de recordes. Para,
fazendo algo de completamente inútil, ficar na história. É que, afinal, qual a
razão de se empregar uma palavra superlativa e impronunciável, quando se
poderia simplesmente dizer que algo era feito de modo muito contrário à
constituição?
Mais ou menos nessa altura, andava a direita política a
tentar cumprir um sonho: uma maioria, um governo e um presidente. Estávamos no
tempo da AD de Sá Carneiro que tentava juntar à maioria parlamentar formada
pelo PSD, CDS e PPM (no tempo em que os monárquicos não eram a lástima que são
hoje) e ao governo que chefiava, um presidente da república de direita. Uma ideia que não pegou porque as pessoas
perceberam o perigo de se perder a rede de segurança dada pelo controlo que os
diferentes órgãos da democracia portuguesa exercem mutuamente.
Um controlo que se perdeu agora que esse sonho de Sá
Carneiro se concretizou. Temos uma AD no parlamento e no governo e um militante
do PSD na presidência. Um presidente que tem sido um amparo à inépcia política
deste governo, que aceita ministros inaceitáveis, que finge não ver as
tropelias de Portas e, acima de tudo, que deixa que este governo continue a
infringir a lei fundamental vezes sem conta.
Finalmente este governo veio dar uso à tal palavra que
parecia inventada. Este governo teima em governar anticonstitucionalissimamente.
Como define o Priberam, de modo muito anticonstitucional. Usando uma imagem
automobilística, Passos Coelho é um condutor que avança nos sinais vermelhos,
passa pelas passadeiras quando há velhinhos a atravessá-las e entra em ruas de
sentido proibido. É um condutor que despreza reiteradamente as regras porque
sabe que tem sempre o mesmo polícia de trânsito que o deixa continuar apenas
com um aviso “desta vez passa, vá lá e não repita”.
Cavaco, o polícia que não quer exercer a autoridade que só
ele tem, assiste a esta exibição de irresponsabilidade sem levantar um dedo,
deixando Passos ao volante de um país que não quer, não pode e não deve ir para
onde o leva. Cavaco é um polícia mau quando a situação exigia um polícia bom,
um que fizesse o seu trabalho – é só isso que se lhe pede -, cassando a carta a
quem já mostrou que não conhece e não quer conhecer as regras fundamentais.
tá visto que não viste a Mary Poppins...
ResponderEliminaragora sim a palavra, com este governo, vai pegar.
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