(companha + -ia)
substantivo feminino
1. Acto de acompanhar. = ACOMPANHAMENTO
2. O que acompanha alguém (ex.: o livro foi a sua companhia durante a viagem).
3. Reunião de pessoas.
4. Grupo de indivíduos que convivem.
5. Sociedade (mercantil, industrial, etc.).
6. Associação de pessoas ou grupo organizado com um objectivo específico (ex.: companhia de teatro).
7. Subdivisão de batalhão comandada por capitão.
Assinou
o contrato à pressa. Queria reduzir ao mínimo possível o contacto com aquele
individuo e sair rapidamente daquele antro escuro e cheio de delinquentes, na
pior zona da cidade.
Claro
que temia ser apanhado - era demasiado arriscado reduzir a escrito um serviço
como o que estava a contratar mas essa não era a sua principal aflição. O que abominava
sobremaneira era recorrer a outra pessoa para o que quer que fosse. Era-lhe
difícil reconhecer a impossibilidade de resolver sozinho um problema.
Era
um misantropo. Desde cedo se habituara a viver sem dependências, sem os dramas,
os aborrecimentos e as inquietações que só uma vida em comunhão podem trazer.
Era feliz na sua vida de eremita. Vivia numa felicidade monástica, num sossego
que lhe preenchia uma existência que só ambicionava o distanciamento.
Esse
contentamento foi interrompido pelo jovem casal que arrendara a casa colada à
sua. Sem êxito, tentou todo o tipo de estratégias que no passado lhe tinham
servido sem falhas o desígnio de viver sem companhia: Encheu-lhes a casa de
baratas, vandalizou-lhes o carro, estragou-lhes o sono com marteladas a meio da
noite e plantou-lhes armadilhas no quintal.
Percebeu
que por falta de alternativas ou por uma incompreensível e incomensurável dose
de estupidez, os jovens persistiam. Pior que isso, os incidentes levavam-nos a procurá-lo
numa tentativa de estabelecer boas relações de vizinhança. Massacravam-no com
uma urbanidade amistosa que lhe dava um asco que começava a afectá-lo
fisicamente.
A
irritação de pele que atribuía à náusea que o contacto humano lhe provocava foi
a gota de água que o levou a contactar o assassino a soldo. Estranhou que o
individuo quisesse um contrato assinado para formalizar o lúgubre serviço mas
era a primeira vez que o fazia e não estava em posição de discutir estes
detalhes quando a sua saúde pedia uma resolução drástica e imediata.
O
contrato estava assinado. Em breve teria a sua felicidade de volta, o seu sossego.
Animado
por este pensamento abandonou rapidamente aquele bar de marginais e atravessou
a rua, com os olhos enfiados no chão como gostava. Tão alheado que nem reparou
na carrinha da Perfumes & Companhia que vinha a demasiada velocidade para
evitar o embate fatal. Um embate tão violento que o deixou impresso no capô,
cobrindo metade do nome da conhecida loja. A metade que dizia Perfumes.
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