adjectivo
1. Que anda arredado dos lugares ou pessoas
que frequentava.
2. Arisco.
Aqui
há tempos vi um documentário sobre os hikikomori,
jovens japoneses que se isolam nas suas casas e são incapazes de manter qualquer
contacto com o exterior, em alguns casos durante décadas.
Em
Portugal temos um caso notável dessa patologia: o Banco de Portugal. Diz-nos a história recente que quando o
polícia do nosso sistema financeiro quer saber o que se passa não vai lá ver. Manda
perguntar por escrito. Parece que os excelentes quadros do Banco de Portugal não
gostam da realidade que vive fora dos seus gabinetes. Afligem-se de a ver, cheirar
ou tocar.
No
mais recente sintoma, o Banco de Portugal lançou na sua página um
inquérito sobre a qualidade das notas em circulação. Seria mais fácil ir para
uma agência bancária ou uma banca de peixe, sítios onde parece que circulam
algum dinheiro, mas isso obrigaria a contactar com as notas cujo estado se quer
conhecer, o que é inconcebível para o arredamento a que o Banco se condena.
O
inquérito é um pouco pobre. Tem apenas dez perguntas, quatro das quais sobre os
dados do respondente, deixando apenas seis para aquilo que supostamente querem
saber, o estado das notas. Claro que um questionário tão exíguo deixa de fora as
características que mais nos preocupam, a sua escassez e fugacidade. As notas
rareiam e as poucas que nos entram na carteira arranjam logo um pretexto para
sair.
Sendo curto, o inquérito não deixa de mostrar que a boa disposição não
abandonou o supervisor. Das seis perguntas sobre notas, duas respeitam às de 50.
Ver uma nota dessas na minha carteira é como ver nevar em Lisboa, uma ocasião rara e feliz. Em vez de perguntarem pelas notas de vinte (frequente como a
chuva, para manter a analogia) ou de dez (algo que vejo tantas vezes como táxis
a cair de maduros), escolheram a via do humor sardónico e perguntam-nos sobre
algo que desconhecemos. Como é que sei que nos estão a gozar? Porque uma das
opções de resposta é “não sei”. Mais cómico só acrescentando “nunca vi”.
O que
o Banco de Portugal nos quer secretamente dizer é que sabe que está doente –
que é um hikikomori - mas continua de bom humor.
É
certo este padecimento já nos tem custado muito caro. Eu percebo que as
notas são como os BPN, coisas muito asquerosas em que não apetece tocar, mas
alguém tem de ir lá ver o que se passa e esse é o trabalho deles.
Se
o estômago é fraco, há que mudar de ramo. Da venda de cupcakes à carpintaria de limpos há muitas actividades higiénicas,
produtivas e gratificantes por onde enveredar. Áreas em que se pode ser pago
por via electrónica de modo a evitar a porcaria que nunca deixará de se agarrar
ao dinheiro.
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