sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Surreal

(francês surréel)
adjectivo de dois géneros
1. Que apresenta características próprias do surrealismo. = SURREALISTA
2. Que causa ou denota estranheza, não pertencendo à esfera do real. = ABSURDO, BIZARRO, ESTRANHO
substantivo masculino
3. Aquilo que está para além do real.

Tenho de confessar que a pintura pouco me comove. Tirando meia dúzia de excepções sou perfeitamente incapaz de perceber o apreço, emoção e o entusiasmo com que os outros reagem às obras de pintores que sei serem incontornáveis no caminho que a humanidade fez  desde que deixou de pintar paredes nas cavernas.

As excepções são poucas como disse e dividem-se em duas categorias: a pintura renascentista e a produzida pela minha filha desde os seus primeiros anos. A primeira pelas razões óbvias; porque se consegue discernir o objecto reproduzido, pelo talento em reproduzir luzes, sombras e reflexos e pelas histórias que muitas vezes encerram. A segunda, a que prefiro, porque vem  habitualmente (cada vez menos, é certo) acompanhada de amorosas dedicatórias e corações desenhados.

Isto para dizer que os célebres e surreais Miró são, para mim, pouco apelativos. E sê-lo-iam mesmo que o pintor mos tivesse dedicado, enchendo-os de corações e de “adoros-te”.

O que eu definitivamente não adoro é casos como o do BPN. Chamem-me picuinhas mas chateiam-me as coisas que me custam dinheiro sem que delas tire proveito. Por isso gostava que não houvesse outra coisa igual. Fazia falta ter algo que não nos deixasse esquecer que o BPN aconteceu. Que mantivesse viva a memória das profundezas a que o engenho humano (convencionemos assim) pode chegar.

Pelas piores razões o estado português, todos nós, adquiriu a maior colecção de pintura do artista catalão. Porque não aproveitar essa herança e fazer dela um símbolo da maior burla de que o país foi vítima?

Pô-la num museu e explicar como é que ela chegou até à posse pública, seria uma boa maneira de tirar partido de uma coisa má. É um bocado como pensar no desemprego como uma oportunidade. No fundo, obrigávamos os quadros a sair da sua zona de conforto e voltarem para cá, onde podem desempenhar uma função socialmente útil.

Continuando na senda das oportunidades, as receitas desta colecção podiam ser complementadas com a venda de memorabilia: aventais, compassos, réplicas de cartões partidários, cópias das ordens de venda de acções ou t-shirts a dizer “mind the BPN”.


Surreal, não é? Pois é.

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