(francês surréel)
adjectivo
de dois géneros
1. Que apresenta características próprias
do surrealismo. = SURREALISTA
2. Que causa ou denota estranheza, não
pertencendo à esfera do real. = ABSURDO, BIZARRO, ESTRANHO
substantivo
masculino
3. Aquilo que está para além do real.
Tenho
de confessar que a pintura pouco me comove. Tirando meia dúzia de excepções sou
perfeitamente incapaz de perceber o apreço, emoção e o entusiasmo com que os
outros reagem às obras de pintores que sei serem incontornáveis no caminho que
a humanidade fez desde que deixou de
pintar paredes nas cavernas.
As
excepções são poucas como disse e dividem-se em duas categorias: a pintura
renascentista e a produzida pela minha filha desde os seus primeiros anos. A
primeira pelas razões óbvias; porque se consegue discernir o objecto
reproduzido, pelo talento em reproduzir luzes, sombras e reflexos e pelas
histórias que muitas vezes encerram. A segunda, a que prefiro, porque
vem habitualmente (cada vez menos, é
certo) acompanhada de amorosas dedicatórias e corações desenhados.
Isto
para dizer que os célebres e surreais Miró são, para mim, pouco apelativos. E sê-lo-iam
mesmo que o pintor mos tivesse dedicado, enchendo-os de corações e de
“adoros-te”.
O
que eu definitivamente não adoro é casos como o do BPN. Chamem-me picuinhas mas
chateiam-me as coisas que me custam dinheiro sem que delas tire proveito. Por
isso gostava que não houvesse outra coisa igual. Fazia falta ter algo que não
nos deixasse esquecer que o BPN aconteceu. Que mantivesse viva a memória das
profundezas a que o engenho humano (convencionemos assim) pode chegar.
Pelas
piores razões o estado português, todos nós, adquiriu a maior colecção de
pintura do artista catalão. Porque não aproveitar essa herança e fazer dela um
símbolo da maior burla de que o país foi vítima?
Pô-la
num museu e explicar como é que ela chegou até à posse pública, seria uma boa
maneira de tirar partido de uma coisa má. É um bocado como pensar no desemprego
como uma oportunidade. No fundo, obrigávamos os quadros a sair da sua zona de
conforto e voltarem para cá, onde podem desempenhar uma função socialmente
útil.
Continuando
na senda das oportunidades, as receitas desta colecção podiam ser complementadas
com a venda de memorabilia: aventais, compassos, réplicas de cartões
partidários, cópias das ordens de venda de acções ou t-shirts a dizer “mind the
BPN”.
Surreal,
não é? Pois é.
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