domingo, 5 de janeiro de 2014

Luto

(latim luctus, -us)
substantivo masculino
1. Sentimento, pesar pela morte de alguém. = NOJO
2. Traje usado em sinal de luto pela morte de alguém. =
3. Período após a morte de alguém em que é costume usar esse traje ou limitar determinados comportamentos. = DÓ, NOJO
4. [Psicanálise]  Processo durante o qual um indivíduo consegue desligar-se progressivamente da perda de um ente querido.
5. Sofrimento ou desgosto.


Na véspera do Dia de Reis veio a notícia que todos sabíamos que havia de vir mas esperávamos que nunca chegasse. O Rei, o verdadeiro mago, foi traído por um coração que, sendo maior do que a vida, não a quis mais animar, cansado das batalhas pelo seu – e meu – Benfica e pela sua – e minha – selecção. Batalhas que ajudou a combater - no relvado primeiro e de fora depois - levando a sua equipa a vitórias irrepetíveis e, inevitavelmente, às derrotas que todos os campeões também sofrem.

O Rei é uma lenda. Uma lenda que, como todas as outras, me chegou pela  tradição oral, pelo que me contavam os mais velhos, os que o viram nos relvados.

Só mais tarde consegui ver as imagens das proezas do Rei. Os testemunhos de arquivo da sua rapidez de pantera, do imparável drible, do remate indefensável. Um remate que concentrava toda a força de um corpo, dobrando-o sobre o pé - como nunca mais se viu –, na exacta fracção de segundo e de milímetro capaz de impelir a bola, à velocidade do som e do sonho, em direcção às redes, agitando-as naquela dança encantatória que, por mistério inexplicável, nos leva ao estádio semana após semana.

Não foi o talento que o fez Rei. O que o entronizou foi, sobretudo, o seu carácter: a admiração e respeito pelos adversários, a força interior que reunia para lutar contra desvantagens impossíveis ou a incapacidade de reagir contra a agressividade das defesas contrárias. Como ouvi hoje da boca de um seu adversário, Bobby Charlton, outra lenda, He didn’t have an evil thought in is mind.

O nome e a magia do Rei chegaram a todos os cantos do mundo. A notícia de hoje pode ser lida, vista e ouvida em meios de comunicação de toda a parte. Numa delas, escrita em paragens pouco dadas ao futebol, o Huffington Post diz que uma lenda morreu.

Engana-se. As lendas não morrem.


Perduram enquanto as pessoas se emocionarem com o génio, a humildade e o heroísmo apenas alcançável pela grandeza de carácter. Perduram enquanto os pais quiserem contar aos filhos boas histórias. Histórias de batalhas épicas, vitórias improváveis, finais felizes e valores éticos. Histórias como as do Rei Eusébio.

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