quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Referendo


(latim referendus, -a, -um, particípio passado de refero, referre, trazer ou levar de novo, remeter, dar, responder, relatar)
substantivo masculino
1. [Diplomacia]  Mensagem que um representante diplomático expede ao seu governo a pedir novas instruções.
2. [Política]  Direito que têm os cidadãos de se pronunciarem directamente sobre as grandes questões de interesse geral.
3. Votação em que se exerce esse direito. = PLEBISCITO


A juventude existe para almofadar o choque entre o mimo inconsciente da infância e a brutal responsabilidade exigida quando chegamos à idade adulta. É a idade em que recebemos a liberdade, a vitalidade, a sensibilidade e a imaginação que antes não tínhamos e que, com a chegada ao estado adulto, nunca mais voltará.

É um estado, um estágio se preferirmos, em que podemos, sem consequências de maior, fazer aquilo que nos der na real gana. Serve para experimentar e ultrapassar os limites que mais tarde irão conduzir a nossa vida. A juventude é (e deve ser) um tempo em que investimos  em coisas como concertos de rock ou de música clássica, paixões violentas ou insignificantes, amizades eternas ou fugazes, viagens reais ou imaginárias – estas habitualmente proporcionadas por livros, estupefacientes ou diferentes tipos de bebidas alcoólicas -, e, acima de tudo a aprender. E é indispensável aprender muito nem que para isso se tenha de estudar. É a altura em que se exige que exageremos.

O que sempre me escapou ao entendimento é a opção dos que preferem gastar esse tempo de ouro (e de lama e de areia – preferencialmente da praia) aderindo a juventudes partidárias. Não ignoro que a juventude é a altura dos idealismos puros e exacerbados mas confundir isso com partidos políticos é como pegar em bugalhos para temperar a carne.

As jotas são a maneira de evitar a juventude tecnicolor e entrar directamente para o cinzentismo da idade adulta. As jotas são as juventudes cotas.

Os cotas partidários – especialmente os que já foram jotas - adoram as juventudes. Gostam do seu particular apreço por colar cartazes, buzinar nas campanhas e fazer claque em comícios.

Não me lembro de alguma vez ter visto o símbolo de uma jota no boletim de voto mas, aparentemente, têm acesso ao parlamento e conseguem estropiar o processo legislativo, anulando uma lei já votada em plenário e levando-a a referendo eleitoral. Não vale a pena tentar perceber se o fazem por frete ou por convicção: o nível de requinte é tão escatologicamente baixo para ambas que torna o esforço interpretativo perfeitamente escusado.

O que vale a pena é rentabilizar o custo do acto referendário (austeridade é coisa para velhinhos e funcionários públicos) para voltar a consultar a população sobre coisas importantes. Como diz o Priberam, sobre as grandes questões de interesse geral. Como o aborto, por exemplo.

Assim, deixo à discussão pública, pergunta formulada e tudo, a seguinte consulta sobre o aborto, essa chaga social:


- Devem os elementos da jotas ser impedidos de emitir qualquer opinião política antes de, comprovadamente, terem alcançado um nível intelectual igual ou superior ao de um gafanhoto?   

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