quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Epitáfio

(latim epitaphius-ii)
substantivo masculino
1. Inscrição sepulcral.
2. Breve elogio fúnebre.


“Nota de agradecimento - O Conselho de Administração do Banco Espírito Santo manifesta o seu agradecimento pela confiança dos seus Clientes e Acionistas, pela lealdade e dedicação dos seus Colaboradores e pela cooperação das Autoridades Governamentais e de Supervisão.
Lisboa, 17 de março de 2014

Grupo Banco Espírito Santo, Relatório e Contas 2013, pág. 89

Quando acontece uma falência bancária surgem de imediato centenas de opiniões sobre a forma como (não) se preveniu, geriu e resolveu a questão. Debate-se a regulação e a qualidade da supervisão, debate-se a escolha entre um resgate com dinheiros públicos ou privados e debate-se quem deve pagar pelo falhanço (accionistas, credores ou depositantes). Só num ponto ninguém toca: não devia alguém ganhar com a falência de um banco?

Porque se há depositantes que merecem ser salvos, para que haja confiança no sistema bancário, também os devedores merecem ser recompensados. Afinal, venceram o jogo contra o banco. Sobreviveram ao banco. Sabendo o que nos custa – em euros e em anos - pagar as casas, os carros o os pequenos vícios que nos animam os dias, deveríamos ser premiados quando temos o talento ou a sorte de assistir, no nosso curto tempo de vida, à morte de instituições que chegam a durar séculos.

Sei que há o argumento de que isso não é lá muito sério, que os investidores nos bancos que morrem têm direitos e que esses créditos são a única coisa que lhes dá alguma esperança de recuperar parte do que investiram. Mas a quem perde quase tudo pouca diferença fará perder tudo. E fazia tanta gente feliz...

No meio de todas as opiniões que leio ninguém sai em defesa do direito dos devedores à felicidade. Do direito a serem premiados por ter ganho ao banco no jogo que mais importa, o da vida.

Era só isto.

Também gostava de ouvir alguém estranhar o facto de termos ouvido o Marques Mendes dizer na TV o que ia acontecer ao BES, com uma precisão infalível, um dia antes do Governador do Banco de Portugal o anunciar. Estranho ninguém se perguntar quando o soube – essa informação valia milhões (muitos) – nem como o soube. Mas isso era galhofar e gosto de ser levado a sério.

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