(latim justitia, -ae, conformidade com o direito, equidade , bondade)
substantivo feminino
1. Prática e exercício do que é de direito.
2. Conformidade com o direito.
3. Direito.
4. Rectidão .
5. Magistrados e outros indivíduos do foro.
6. Poder judicial .
7. Lei penal.
8. Punição jurídica.
9. Uma das quatro virtudes cardeais.
Estou, como os Espírito Santo, caído na desgraça de ter a PT
como credor. E, como eles, estou em incumprimento.
Para quem ache que o caso não é grave, a PT contratou uma
multinacional de advogados – a Intrum Justitia - para me convencer a pagar o
que lhe devo. E a Intrum Justitia (“dentro da justiça”, segundo o tradutor
Google) não se desleixa nas tarefas que lhe acometem e já mostrou serviço sob a
forma de duas simpáticas cartas.
A primeira, em Junho convidava-me a pagar a dívida de
imediato num tom ameaçador “Deverá pagar Hoje”
(textualmente, o sublinhado e a maiúscula) mas, ao mesmo tempo, pedagógico “uma
vez que beneficiou de produto ou serviço prestado pelo Nosso Cliente”. Não fora
o tom carregado do “pagar Hoje” e
ainda lhes tinha escrito que não, não beneficiei do serviço prestado, pelo
menos na integral extensão em que mo querem cobrar – do que avisei a PT
atempadamente – e que, por isso, a facturação apresentada não corresponde à
verdade. Mas se há coisa que me chateia é receber ordens estúpidas – seja na
forma, seja no conteúdo.
Na segunda carta, recebida agora, a Intrum, lamenta-se pela
minha falta de cordialidade: “não obtivemos da Vossa parte qualquer iniciativa
concreta quanto à resolução amigável desta dívida.”, acrescentando que estão "certos que pretendo efectuar o pagamento”, pelo que propõem um plano de “três
suaves prestações” mensais. O tom muda mas o erro subsiste: não propus nenhuma
iniciativa por pouco concreta que fosse nem pretendo pagar o que reclamam.
Mais ainda, a Intrum erra nas contas e tenta enfiar um
número que não é múltiplo de três nessas suaves prestações. Como é que o faz?
Acrescenta um cêntimo à conta. Também me chateio com contas mal feitas,
especialmente quando era tão fácil fazê-las bem já que o tal número era
divisível por quatro – e quatro prestações
seriam mais “suaves” do que três.
A Intrum não erra só nas contas e no julgamento de
intenções. Nessa mesma carta, avisa-me que há um Decreto-Lei (a firma de
advogados chama-lhe “Decreto de Lei”)
que permite às operadoras inserir os meus dados “numa lista negra partilhada
pelas operadoras” que lhes permite
“recusar a venda e prestação de serviço com base nessa informação”.
A ideia é tentadora – recebo mais chamadas e visitas de
comerciais de telecomunicações (a PT veio cá hoje, ontem foi a Vodafone, no
fim-de-semana ligou-me a NOS) do que da minha família e amigos – mas,
infelizmente, errada.
É que a Intrum não está, afinal, por dentro da lei: andei a
pesquisar e o montante que dizem que devo – sessenta e nove euros e oito
cêntimos – é legalmente insuficiente (é preciso dever 97 euros) para me levar a esse
paraíso onde os vendedores de telecomunicações não chegam.
E é aqui que lamento ainda não chegar aos calcanhares dos
Espírito Santo. Esses já devem ter garantido o sossego durante várias gerações,
a não ser que optem pelas “três suaves prestações”.
Mas não desanimo. A importância em dívida está a crescer à
razão de treze cêntimos por mês, o que pelas minhas contas me permitirá o
ingresso na invejável lista negra dentro de dezassete anos, dez meses e vinte e
três dias.
Até lá, conto entreter os meus dias com as cartas da
Intrum. E com as histórias dos Espírito
Santo.
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